quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Sabe aqueles amigos que não tiveram filhos ainda?

"Quando eu penso nos meus amigos sem filhos, livres como pássaros, o meu primeiro impulso
é dar-lhes uma bucólica pedrada.  Eles não chegam no trabalho sem saber que estão sujos de
vômito. Saem toda noite, ou toda noite em que querem sair. Podem mudar de cidade, de 
emprego ou de vida com muito mais facilidade. Quando me perguntam se deveriam ter filhos,
ou como é, eu digo que é o máximo e que deveriam fazer isso imediatamente. Sabe aquela 
teoria da piscina, que atribuem ao casamento? Aquela em que você entra na água, ela está
gelada, e mesmo assim você diz que está morninha, entrem, entrem, só pra não ser o único 
trouxa lá? Com filhos é parecido, mas você não ter a opção de sair da piscina.

Meus amigos sem filhos, tenho a impressão, acabam se cansando da minha falta de tempo, 
dos meus constantes “hoje eu não posso”, ou do fato de que eu sempre tento fazer com que 
qualquer evento seja  na minha casa, pra não precisar arrumar uma babá. Eles devem achar
que eu estou na lama. E mesmo com tudo isso, eu olho pra minha filha e penso que, se eu 
soubesse que seria tão bom, teria tido filhos muito antes. É quase impossível descrever esse
sentimento sem parecer aqueles pais, ou mães, que não tem outro assunto senão filhos, 
e eu até procuro evitar, mas, afinal, aqui é o mãe bacana, né?
A primeira coisa que acontece quando você tem um filho é que você ganha uma preocupação 
nova, constante e, segundo dizem, vitalícia. Você vai se inquietar a vida inteira, ainda 
que os motivos mudem. Uma hora não tomou leite, na outra pediu a chave do carro. 
impressionante é que essa preocupação toda seja um alívio.

Sabe aquele holofote que vive em cima de você? Ele vai embora. Ainda que ali pra perto. 
Se preocupar com uma coisinha linda que não seja você mesmo dá um alívio 
tão grande, é tão libertador, que, no fim, o passarinho da história é você. 
Também dá uma sensação de continuidade, de dever cumprido perante os seus ancestrais.
Desde o primeiro ser unicelular até você, existe uma linhagem jamais quebrada de 
sobreviventes e reprodutores. Gente que viveu o suficiente pra se reproduzir e ajudar a 
cria a sobreviver. E você vai ser o primeiro, em milhares de anos, a quebrar essa corrente?

Sim, a gravidez é um pouco ridícula, como as cartas de amor. Você fica ali falando com a barriga,
pra que a criança se acostume com a sua voz e não só a da mãe, mas se sente como se alguém 
tivesse dito “fala com a minha mão”, ou fala com o oitavo passageiro. Afinal,impressionante
 que um indivíduo se monte sozinho, dentro de uma barriga, usando alguns elementos 
disponíveis ao seu redor. É estranho, mas depois que o alienzinho vem ao mundo, você pode 
pegar no colo e chamar de seu.

Bom, isso aqui é um papo de pai, então vamos falar de coisas mais práticas (mães, me perdoem).
Você deixa de ser invisível para a mulherada na rua. Em casa, ok, talvez você acabe fazendo parte 
da mobília, mas andar na rua com um bebê ou criança pequena causa um fascínio que eu nunca 
tinha visto. Sei lá se é biologia evolucionária, se ao parecer um bom pai você passa a ser 
geneticamente desejável, e eu digo, é muito divertido. Meu irmão vive pedindo pra eu emprestar 
a Lucia pra ele ir ao shopping. Eu digo pra ele ir furar camisinhas, que eu quero sobrinhos. 
Sobrinhos são como filhos que você pode devolver quando quiser, só que eles mais aumentam 
a vontade de ter filhos que a satisfazem."

--
Renato Kaufmann é pai da Lucia, escritor e autor dos best-sellers Diário de um Grávido e 
Como Nascem os Pais, ambos inspirados no blog Diário de Grávido. Aos seus amigos que
já tem filhosele costuma dizer: “Pais de todo mundo, zumbi-vos”. 

No fim, eu fico pensando: sim, tem noites em claro – e não são daquelas que você se diverte. 
Sim, você chega sujo de vômito nos lugares e só descobre isso tarde demais. Sim, você não 
sai o tempo todo. Sim, você nunca mais vai dormir direito. Sim, a sua vida não te pertence. E 
sim, você nunca esteve tão feliz."

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo comentário!